terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Marinheiro de primeira viagem

16 de janeiro de 2010 – sábado

Por volta das 08:20h, eu, Eddy, Indaiá e Junior embarcamos rumo a Ilha de Maré.

Nosso objetivo era visitar a ilha, ouvir histórias do mar, conhecer algumas praias, conversar com pescadores e marisqueiras, descobrir a realidade de comunidades que vivem a beira-mar e tiram seu sustento das águas.

Fomos num barco ou uma lancha, no total éramos cerca de 80 pessoas a bordo. Ao chegar na praia de Itamoabo, desembarcamos dentro do mar, com água mais ou menos na cintura e então alcançamos a areia da praia. Nessa aventura, Indaiá ficou desesperada ao saber que teríamos que descer dentro d’água. Chegamos até a pensar na possibilidade dela pegar uma carona num jegue que se aproximou para carregar bagagens e cestos pesados trazidos pelos visitantes. Mas tudo deu certo e chegamos sãos e salvos ao solo firme.

Caminhando, pela beirada da praia em maré de vazante, fomos em direção a Praia Grande, onde segundo Eddy, haviam marisqueiras em trabalho que poderíamos conhecer. No caminho passamos por Santana e Caquente, foi quando encontramos com Seu Bêgo (Antônio das Neves), que mora em Praia Grande e estava indo buscar um peixe em Santana. Quando lhe perguntamos se estávamos longe do local das marisqueiras, ele disse que aquele não era um bom dia – de segunda a sexta elas trabalham tirando os mariscos e no sábado e domingo vendem em outras “cidades” com Salvador. Afirmou que sua mulher e sua filha eram marisqueiras, e então decidiu voltar levando a gente até sua comunidade, apresentando pessoas e lugares, inclusive sua casa. No trajeto, nos contou sua história: desde pequeno trabalhou no mar, como pescador pegava desde peixe a crustáceo. Com poucos recursos “equipamentológicos” ele entrava no mar e pescava lagosta. Confessou que chegou a usar bombas para conseguir o pescado, porque assim se consegue uma quantidade maior de peixe e conseqüentemente, mais grana. Foi numa dessas que depois de estourada a bomba, enquanto pegava os peixes boiando que quase teve sua mão/braço comido por um tubarão atraído pelo cheiro dos peixes mortos na explosão. Contou também que já pescou com rede de arrasto, e que numa dessas chegou a pegar uma arraia/jamanta de 6.000kg ou 5.000kg ou talvez 1.000kg (cada hora era um peso! Rsrs), e devido a uma embarcação grande que cruzou o caminho de seu pequeno barco teve que soltar a “jamantona” pescada um tempo depois em Itaparica. Atualmente, trabalhava como pedreiro, porque era mais rentável, mas ainda fazia artesanato e vendia em Feira de Santana, indo até lá uma vez na semana.

Na volta a Itamoabo, com Seu Bêgo junto, encontramos dois senhores muito especiais: o Sr. Ulisses e o Sr. Eurípedes. Os três juntos, mais Eddy – estava configurado o espaço para troca de histórias de pescador. Sr. Ulisses já chegou com a história de um relógio que caiu no mar e foi achado na barriga de uma traíra que sua tratava, um mês depois, e o mesmo ainda estava funcionando! Parecida com a de Eddy, hein?! Como dizia Seu Bêgo: “essa menina é mariseira” (cheia de história, mentirosa). O melhor é que todos afirmavam sempre que era verdade, alegando que por conta da idade não mentiam mais. Seu Bêgo, a cada história dizia que era um pedreiro dos bons e “tô mentindo?! Não to! Vou completar 58 anos no dia 18/01”... Um encontro fantástico de gerações de pessoas cheias de histórias, todos embalados pelas marés da Baía de Todos os Santos.

Duas curiosidades contadas pelo Seu Bêgo: 1) para uma criança aprender a andar é só amarrar um carangueijo-tesoura num cordão e dar ao menino que em dois tempos ele vai sair andando atrás do animal; 2) se uma mulher estiver parida, ela não pode comer peixe-frade de jeito nenhum, durante 01 ano, se não ela não sara.

Umas 13h, chegamos de volta em Itamoabo, onde finalmente almoçamos. Moqueca de Atum, foi o prato escolhido. Acredite: com R$ 36,00, nós 05 (porque seu Bêgo ficou com a gente até o final, e ainda jogou o queixão em Indaiá) comemos a vontade a deliciosa comida. No entanto, nesse momento, o tempo começou a fechar. Com chuva forte caindo, nos refugiamos, depois de um banho de mar, embaixo da lona da barraca onde comemos. Umas crianças vestidas com caretas passaram por lá. E as pressas embarcamos no barco que balançava que só ele no mar avexado pelo mal tempo, todos de volta a Salvador, deixando por visitar algumas praias como é o caso de Boteio, onde mora uma amiga de Eddy que poderia nos levar até algumas pessoas para conversar sobre Yemanjá, o mar e mais histórias de pescador.

Luiz Antônio Jr.

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