quarta-feira, 9 de junho de 2010

Carta para um ator-doado

Antes de começar o ensaio, o ator passa seu texto, estuda seus deslocamentos, desenha seus movimentos, constrói o personagem... e de um dia para o outro, tudo muda. As marcas são desfeitas, os textos são alterados, as composições de personagens se dissolvem e precisam ser recriadas rapidamente... um dá uma opinião, outro faz uma sugestão diferentes, um terceiro acha uma outra coisa... ops, TRAVOU!


Vamos começar tudo de novo! Percebe que falta alguma coisa, que tem algo estranho? Então, calma! Respira e vamos em frente refazendo a construção da cena e da personagem... Sei que é uma situação difícil, você ter comandos diferentes sobre a mesma cena, ação ou o que quer que seja. Mas entende que todos buscam caminhos para fazê-lo entender a dinâmica da atuação. Todos estão atentos seu trabalho e querem melhorá-lo cada vez mais...

Lembra que o ator é aquele que atua, que dá vida ao personagem, que interpreta a verdade de pessoas in papel. Então, zera tudo e recomeça a criar. É inegável a sensação de ter o trabalho perdido, mas será que foi perdido mesmo? Prefiro acreditar que o trabalho chegou onde deveria, que nem um carro numa pista, para pegar o retorno e seguir, tem que avançar no sentido contrário ao que precisa. Nessa montagem que se pauta no compartilhamento entre atores, direção, cenários, textos, figurinos e tudo mais, zerar é sempre possível.

Nossa pesquisa tem sido constante e infinita. Cada dia descobrimos novas leituras, percebemos novos olhares, e isso muda tudo. E porque? Me pergunto: Será que quero agradar a todos? Qual a minha dose de SIM ao que os colaboradores trazem?

Resposta: Não é que queira agradar a todos, mas quero que minha idéia seja clara e chegue nas pessoas. Isso significa que as impressões me chamam atenção. E minha dose de sim é até onde não distorce a leitura que faço da obra e aquilo que quero dizer com ela.

As vezes, buscamos caminhos diferentes para chegar no mesmo lugar. Nesses últimos dias, tenho percebido o quanto de repetição em indicações é recorrente. Coisas que já disse retornam em outras bocas, existem percepções/observações que retornam de diversos modos... e isso é consciente em cada ator.. E mais do que isso, é externalizado! Não esqueço da reunião de ontem quando se colocou na roda que todo mundo sabe o que está sendo dito, mas na hora de fazer trava, não sai... E se isso está acontecendo, eu pergunto: PORQUE ator?

Minha tarefa é indicar caminhos e apontar leituras do que você propõe, executa, faz; organizando o mosaico da encenação já sabida, fragmentada. A responsabilidade do que vai a cena é do diretor, neste caso - Eu.

Nesse momento de definição e afinação de regras e signos, mergulha no mar e deixa que ele lhe revele seus mistérios. Mas não esqueça, tem gente que mergulha de olhos fechados e tem aqueles que vão de olhos abertos e atentos...

Luiz Antônio Jr.

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