quarta-feira, 16 de junho de 2010

Encontros

Durante uma semana tivemos o prazer de receber A Outra Cia. de Teatro aqui no nosso espaço, o Barracão Clowns. Aliás, nos nossos espaços, porque os coitados pegaram exatamente a transição do Barracão antigo para o novo, então ficaram improvisadamente alojados no Barracão novo, e trabalharam no antigo, no que restou do seu tablado... Apesar das condições que não fazem jus à forma como somos recebidos por eles quando vamos à Salvador (à exceção da primeira pousada que fiquei, ainda no Troca-troca com a Outra, né? Rsrs...), fizemos de coração da melhor forma como pudemos, em meio à loucura que tá a nossa vida nesse mês de junho...


Foi muito especial receber esse grupo com quem temos construído uma parceria contínua já há três anos. Do Troca-troca, passando pelo Conexão Shakespeare-Nordeste, e agora o mergulho partilhado no Mar me Quer. Desta vez, não só fomos ao Vila, como eles vieram pra cá também, finalmente conhecendo a nossa cidade, nosso espaço, nosso dia-a-dia.

Bem, deixando as questões logísticas de lado, o projeto Mar me Quer me atraiu por diversos motivos. Além da continuidade da parceria (estendida a outros dois queridos, o Fabinho Vidal e a Diana Ramos, do Oco Teatro), o texto original me encantou profundamente e, ao assistir o ensaio em Salvador, foi muito impactante a forma como as questões do processo d'A Outra dialogavam com o que vivemos nos Clowns também: saída recente de integrantes, restando uma formação muito mais enxuta; a busca por uma abordagem dramatúrgica menos usual, mais fragmentada; o mergulho no universo temático do mar, mesmo tema que nos permeou no Capitão e a Sereia; necessidade/busca de se reestruturar, repensar, reorganizar, reinventar o grupo.

Naquele momento, nos idos de abril (confere, meninos?), em Salvador, trabalhamos dois dias de forma muito intensa, e pudemos sair de lá com muitas questões, apontando possibilidades de caminhos a serem traçados, questões a serem abordadas, formas de trabalhar o espaço e a dramaturgia. Agora, recebemos os meninos com o trabalho já com seu esqueleto praticamente formado, já com cara de espetáculo. No primeiro ensaio, a paradoxal sensação de um material muito rico, mas ainda apresentando uma forma cansativa, arrastada. Durante a semana, no meio do aperto das nossas demandas locais, fomos - eu e o Marco - nos revezando no trabalho com os meninos e, quando a gente não podia, lá estavam eles bravamente e exaustivamente acordando cedo, mexendo, trabalhando as questões que levantávamos nos ensaios.

Passados cinco dias de trabalho, acho que conseguimos, mais uma vez, dar uma sacudida, peneirada, reorganizada no material que eles trouxeram. Lembro muito da minha relação com o Eduardo Moreira, do Galpão, querido mestre e parceiro de duas direções - Muito Barulho e O Casamento do Pequeno-burguês -, que costumava organizar as bagunças que encontrava no trabalho quando vinha a Natal, e propor outras bagunças a serem desenvolvidas e trabalhadas em seguida, após a sua partida. Sinto a mesma relação com o Luís, é inevitável fazer associações o tempo inteiro quando estou trabalhando com A Outra. O Lu é muito inquieto, ávido por buscar, inteligente, e muitíssimo rápido no raciocínio, na inventividade... Basta meia palavra e ele já tá lá na frente, com três propostas diferentes para resolver o problema! No dia seguinte, quando chego ao ensaio ele já experimentou, mexeu, propôs. Isso, associado com um elenco de quatro atores com uma disposição sem fim para ouvir, para mudar, sem pudores, sem apegos com o que está criado, prontos para responder rapidamente, torna-se esse grupo uma delícia pra trabalhar!

Agora, nesses pouco menos de dois meses que restam até a estreia, a ansiedade que fico é em saber se, em meio a toda a loucura que estamos vivendo aqui em Natal também, se ainda nos veremos antes do bebê nascer, ou se só vou conhecê-lo depois, já mais fortinho, de olhos abertos, sorrindo...

Meninos, continuem assim! Coragem! O trabalho tá muito bem encaminhado, o importante é vocês se apropriarem dele totalmente até o último fio de cabelo, que ele exprima o discurso de vocês, o pensamento de vocês, suas angústias e suas belezas, com toda a dignidade que vocês colocam na cena.

Merda!

1 Comentário:

Anônimo disse...

Palavra de mestre a gente só ouve!

Obrigado mais uma vez e sempre, a você, a Marco e a todos os outros Clowns!
Vamo simbora!

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